Quando eu fiz sete anos, meu pai começou a me levar ao trabalho dele, na esperança de que pudéssemos passar mais tempo juntos e isso fosse o suficiente para me afastar de relacionamentos tóxicos ou daddy issues. Meus anos de terapia e minha lista de celebrity crushes, infelizmente, denotam o fracasso da empreitada, no entanto, é preciso admitir que ali eu descobri algo muito importante sobre mim.
Naquela época, ele era gerente de um dos maiores restaurantes da cidade e, por razões desconhecidas, achou que era bastante saudável me levar a uma degustação de refrigerantes de uma marca local, que queria inserir o produto naquele ponto de venda estratégico. Sim, eram os anos 90, ninguém regulava a classificação indicativa do que eu assistia ou as quantidades de açúcar no meu sangue.
Assim, eu fui parar numa sala, diante de uma grande mesa, cercada pelos donos do restaurante, e recebi - assim como qualquer outra pessoa na mesa - seis copos contendo líquidos borbulhantes de diferentes cores. Depois de provar dois, eu tinha certeza que ninguém jamais pediria aquilo em detrimento do refrigerante que tinha em seu time o Papai Noel e ursos polares, mas fiz o que me foi ensinado até então e permaneci educadamente calada.
A minha vida, porém mudou drasticamente quando alguém disse: "Nós esperamos que você seja sincera. A sua opinião aqui representa a do nosso público", imediatamente liberta do que hoje me parece uma amarra social, informei "o refrigerante de limão não é ruim, mas tem cheiro de palha de aço... e isso estraga um pouco a experiência". A sala estrondou com a gargalhada de 7 adultos, que murmuravam variadas concordâncias.
Ali eu encontrei minha missão e orgulhosamente me achei a paladina do público ideal. Desde então, eu tenho religiosamente entregue opiniões solicitadas ou não, embasadas ou não, sobre absolutamente qualquer coisa, entretendo os meus amigos e fazendo outras pessoas se sentirem como o representante da fábrica de refrigerantes, infelizmente.
São ossos do ofício, imagino.
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