Para qualquer pessoa que goste de cinema, a primeira divisão clara entre os gêneros são os filmes fáceis de assistir e os filmes difíceis de assistir. Aqueles, geralmente romances e comédias; estes, usualmente, dramas, ficção científica e alguns suspenses.
Eu sempre dividi os filmes assim e, por muitos anos, dei preferência aos filmes fáceis, muito sem perceber a profundidade ou a complexidade de várias narrativas. No entanto, para qualquer mulher adulta, com mais de 30 anos, a última década de lançamentos pode ter sido um tanto sofrida.
Desde meados da década de 1930, as comédias românticas fazem parte dos lançamentos do cinema mundial, mas há pouco mais de 10 anos as histórias de amor baseadas em amor, puro e simples, começaram a ralear. Principalmente se as sub-notas de roteiro forem cômicas, e não dramáticas.
Dramas podem ser ambientados em casas simples, cidades pequenas, bairros pobres ou ao redor de empregos comuns, mas as comédias românticas parecem não existir mais fora de um certo padrão de consumo. Só se pode ser a mocinha de uma divertida história de amor se trabalhar numa revista de moda, numa empresa de tecnologia, no alto escalão de uma multinacional, se for uma cantora famosa ou se tiver conexões completamente injustificáveis com alguém extremamente poderoso - daqueles que são tão poderosos, que podem até fazer a trama andar na direção mais conveniente.
É preciso ser muito bem-sucedida, de um jeito muito específico, para estar numa comédia romântica atualmente.
Parece-me bastante justo que a representação de uma mulher moderna tenha uma gigantesca preocupação com o futuro, a carreira e a própria independência, empurrando sua vida amorosa para fora do foco, até o momento em que a pessoa perfeita - ou, geralmente, a mais imperfeita - aparece. O problema, porém, está longe de ser esse. Ele reside no fato de que o sucesso está cada vez mais representado através de aparência, status e números.
Elas são sempre escritoras, editoras, nunca as vendedoras dos livros. Nunca a pessoa comum. Nunca a redatora que trabalha numa agência qualquer, nunca a secretaria de uma empresa de bairro, nunca professora da escola infantil, a caixa do supermercado, a balconista da farmácia. É como se tudo gritasse, o tempo todo, que as vidas comuns de quem assiste esses filmes não são boas o bastante.
É preciso ser jovem, rica, linda e um pouco emocionalmente instável para ser protagonista, como se nada bonito pudesse nascer do comum, do ordinário, das casas abarrotadas e das famílias barulhentas. Talvez, seja essa a regra que faz das exceções - as vezes nem tão boas assim - um grande sucesso.
Não é preciso nada disso para entregar algo que nos faça rir, chorar, sonhar ou suspirar. E não afirmo pela certeza absoluta de que alguém cujo romance favorito gira entorno de uma bilheteira de trem e um aspirante a marceneiro, mas sim pela convicção da professora estressada e sarcástica que casou com um jornalista engraçado e competitivo e hoje tem certeza de que o amor mora em detalhes ridiculamente pequenos, em presentes simbólicos e nos dias que começam às 5h30, com pouquíssimo glamour.
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